Qual a diferença entre um psicólogo e um psiquiatra?

A grande diferença entre psicólogos e psiquiatras é a formação profissional, ou seja, a formação que visa dotar os indivíduos de competências (capacidades para mobilizar conhecimentos, aptidões e atitudes) para o exercício de uma ou mais atividades profissionais.

Para ser psiquiatra, é necessário fazer o curso de medicina e, depois, realizar residência médica em psiquiatria ou especializar-se em psiquiatria e obter a aprovação na prova específica da Associação Brasileira de Psiquiatria. O psiquiatra aprende a psicopatologia, psicofarmacologia e psicoterapia.

Para ser psicólogo, é necessária a graduação em psicologia no grau de Bacharelado, A principal diferença entre os cursos de licenciatura e bacharelado está no objetivo da formação. A licenciatura prepara o profissional para ministrar aulas, e o bacharelado volta-se para o exercício das atividades profissionais como, p. ex., a psicologia clínica. O psicólogo aprende a entender o comportamento humano em diferentes abordagens (p. ex., psicanáltica, cognitiva, Gestaltica e behaviorista).

Ambas as profissões se preocupam com o diagnóstico, tratamento e prevenção de problemas de saúde mental. Podem concorrer na atenção das pessoas com transtornos mentais ou psicológicos, mas muitas vezes são complementares.

O psiquiatra, como um médico, pode prescrever medicamentos, entre os quais os psicofármacos que ajudam em transtornos mentais (p. ex., transtornos de ansiedade, de humor, esquizofrenia, demência).

No exercício profissional, psicólogos aplicam frequentemente testes psicológicos. Alguns instrumentos que ajudam a avaliar o comportamento humano são privativos de psicólogos.

Ambos os profissionais fornecem psicoeducação - uma abordagem terapêutica aplicada ao paciente, seus familiares e cuidadores que busca ampliar o conhecimento sobre a doença e o tratamento.

O que é o psicoterapeuta?

A psicoterapia é aplicada pela psiquiatria desde o século XVIII, com a descrição do procedimento no primeiro tratado de Philippe Pinel. Ganhou um grande avanço com o surgimento da psicanálise, criada pelo médico S. Freud, no século XIX.

Mais recentemente, a terapia cognitiva ou cognitivo-comportamental, idealizada pelo saudoso psiquiatra norte-americano Aaron Beck, é uma das terapias mais difundidas no mundo e com melhores evidências de eficácia.

A psicoterapia, ou terapia da fala, é uma forma de ajudar as pessoas com uma ampla variedade de transtornos mentais ou emocionais. Pode ser combinada com medicamentos ou outras terapias. Durante a psicoterapia, você aprende sobre seus sentimentos, seus pensamentos e seus comportamentos.

Psicoterapeuta é quem aplica psicoterapia.  Atualmente, há grande discussão sobre quem pode aplicar psicoterapia. Isso ocorre porque há pessoas que, sem formação formal e nenhuma supervisão por ordem de classe, oferecem “psicoterapia” de forma equivocada, gerando graves consequências para a saúde mental dos tratados. Por isso, é importante estar atento à formação do profissional do psicoterapeuta. Psiquiatras, psicólogos e outros profissionais de saúde mental podem oferecer psicoterapia.

O número de psiquiatras que fazem psicoterapia diminui?

Nos Estados Unidos, a porcentagem de pessoas que receberam psicoterapia ambulatorial foi 3,37% em 1998 e 3,18% em 2007 (Olfson e Marcus col, 2010). Porém, nesse período de 10 anos, a porcentagem de pessoas em tratamento ambulatorial de saúde mental que utilizaram apenas de psicoterapia ou psicoterapia e medicação psicotrópica juntos diminuiu enquanto a porcentagem que utilizaram apenas medicação psicotrópica aumentou. Declínios ocorreram em visitas anuais de psicoterapia por paciente em processo psicoterápico, gasto médio por visita de psicoterapia e total nacional gastos com psicoterapia.

Entre 1996 e 2016, a porcentagem ponderada de consultas envolvendo psicoterapia diminuiu significativamente (Tadmon e Olfson, 2021). Para pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, a oferta de psicoterapia permaneceu estável (10% -12%). Os declínios foram mais marcantes entre os pacientes com diagnóstico de fobia social, transtorno distímico e transtornos de personalidade.  Para estes transtornos, há tratamentos psicoterápicos com boa evidência de eficácia e, especialmente, para os transtornos de personalidade, não há boas estratégias medicamentosas.

No período de 2010-2016, cerca de metade dos psiquiatras deixou de fornecer psicoterapia (Tadmon D, Olfson, 2021). Prescrições de antidepressivos, antipsicóticos e sedativos-hipnóticos foram negativamente correlacionados com o fornecimento de psicoterapia. As disparidades sociodemográficas aumentaram, com pacientes brancos mais velhos, residentes em áreas metropolitanas de regiões dos Estados Unidos, mais propensos a receber psicoterapia. Este grupo de paciente que pagou por seu atendimento consegue acessar psiquiatras, que atendem menos pacientes, com mais frequência e mais propensos a fornecer psicoterapia.

Há movimentos do Congresso em torno de aprovação de um projeto tentando limitar a psicoterapia a psicólogos. Observando as tendências no mercado americano: transtorno de personalidade recebendo menos tratamento psicoterápico e redução do número de visitas de psicoterapia e do valor da sessão. É impossível não observar um conflito de interesses. A exclusão dos médicos da prática integral da saúde mental traria dificuldade para integração dos cuidados neurobiológicos e psicossociais, do ponto de vista teórico e prático. Se não conheço um tratamento, diminui a probabilidade de prescrevê-lo.

Olfson M, Marcus SC. National trends in outpatient psychotherapy. Am J Psychiatry. 2010 Dec;167(12):1456-63. doi: 10.1176/appi.ajp.2010.10040570. Epub 2010 Aug 4. PMID: 20686187.

Tadmon D, Olfson M. Trends in Outpatient Psychotherapy Provision by U.S. Psychiatrists: 1996-2016. Am J Psychiatry. 2021 Dec 8:appiajp202121040338. doi: 10.1176/appi.ajp.2021.21040338. Epub ahead of print. PMID: 34875872.