Osvladir Custódio - Psiquiatria

O que é ansiedade?

Osvladir Custódio • 6 de outubro de 2021

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O que é ansiedade? E o medo? Como reconheço a ansiedade e o medo?

Ansiedade e medo fazem parte de nossa herança biológica e foram ferramentas fundamentais para a sobrevivência dos nossos antepassados. De uma perspectiva evolutiva, são processos emocionais que nos ajudam a lidar com ameaças ou perigos. 

O medo é provocado por ameaças claras ou por estímulos que podem provocar danos. Três formas de resposta podem ocorrer na presença de um estímulo: congelamento, fuga ou combate. O congelamento é útil para distrair a atenção da ameaça, a fuga aumenta a distância da ameaça, e o combate tenta vencer a ameaça. 

A ansiedade, por outro lado, é provocada por estímulos mais abstratos, possíveis ou pouco claros. A gravidade da ansiedade é determinada pela estimativa de risco e difere entre os indivíduos. A principal característica da ansiedade é a "preocupação". Preocupar-se concentra-se em uma série de possíveis problemas futuros. 

Alguns exemplos de ansiedade são “preocupar-se com quais medicamentos levar para tratar uma possível doença numa viagem” ou “preocupar com as chances de ser demitido baseado em suposições feitas por um silêncio após uma pergunta em uma reunião”.

Ansiedade é comum?

Segundo a Organização Mundial de Saúde, no planeta, uma em cada 13 pessoas sofrem de ansiedade e, no Brasil, uma em cada 11 pessoas. Isso nos coloca em uma posição privilegiada no ranking como a maior população de ansiosos do mundo. As mulheres são mais afetadas pela ansiedade do que os homens. 

Apesar de ser muito prevalente, apenas uma pequena proporção de pessoas com transtornos mentais recebe tratamento em países em desenvolvimento. Ansiedade associa-se com desfechos negativos de saúde, pobre qualidade de vida, aumento de visitas a serviços de emergência e unidades de cuidados primários e custos médicos aumentados.   
“Que, nos perigos grandes, o temor/
É maior muitas vezes que o perigo./
E se o não é, parece-o;...”
(Camões, Os Lusíadas)
Quando ansiedade e medo precisam ser tratados?

O medo e a ansiedade passam a ser mórbidos ou patológicos quando se tornam excessivos, prolongados ou injustificáveis e, dessa forma, causam sofrimento ou prejudicam o desempenho da pessoa no trabalho, na escola, na interação social e no lazer. Nos idosos, podem ainda perturbar funções cognitivas, exacerbar doenças físicas e/ou fazer parte de uma doença física não reconhecida.
Por serem emoções, ansiedade e medo, que todos temos, às vezes, é difícil traçar uma clara distinção entre a normalidade e a doença. Isso mesmo para o profissional de saúde. Se você tem um transtorno ansioso, sua experiência deve ser de muito sofrimento. 
  •  Você acredita que deve identificar o perigo o mais rapidamente para que possa eliminá-lo ou fugir dele? 
  •  Você transforma o perigo em catástrofe? P. ex., numa festa com desconhecidos, já imagina que será ridicularizado por todos.
  •  Você acredita que possa evitar que todas coisas ruins aconteçam? Se você não controlar a situação que identificou como perigosa, acontecerá um desastre? Você faz vários planos de como lidar com um perigo?
  •  Você não tolera a incerteza? Você acredita que para ter paz precisa garantir o desfecho?
  •  Se você não pode controlar 100% o desfecho negativo ou o desastre, é melhor evitá-lo ou fugir do problema?
Se você identificou com as perguntas (Como lidar com as preocupações, Robert Leahy), é possível que tenha um transtorno de ansiedade ou fóbico e possa beneficiar-se de uma consulta especializada. 


Quais os sintomas de ansiedade? 
Há duas maneiras de ser enganado. Uma é acreditar no que não é verdade; 
a outra é recusar a acreditar no que é verdade. (Soren Kierkegaard)

O diagnóstico dos transtornos de ansiedade envolve a identificação e caracterização de (I) pensamentos, emoções, funções cognitivas e percepções, (II) comportamentos e (III) sintomas autonômicos.

(I) Pensamento, emoção e cognição ou percepções:
  1. • nervosismo 
  2. •preocupação 
  3. • medo de que uma coisa ruim possa acontecer e não há como lidar 
  4. • crenças ou expectativas negativas persistentes em relação a si mesmo, dos ouros e do mundo
  5. • medo ou pavor 
  6. • apreensão 
  7. • dificuldade para relaxar
  8. • irritabilidade
  9. • desejo para escapar
  10. • flashbacks, lembranças intrusivas ou sonhos angustiantes associados com evento traumático
  11. • compulsões 
  12. • amnesia dissociativa
  13. • despersonalização
  14. • desrealização
  15. • alienação em relação aos outros
  16. • dificuldade para se concentrar
  17. • pensamentos rápidos 
  18. • obsessões 
  19. • receio de perder controle ou ficar louco 
  20. • sensações de asfixia ou falta de ar 
  21. • parestesias (dormência ou formigamento)
  22.  •esforços para evitar recordações sobre evento traumático
 (II) Comportamentos
  1. •inquietação
  2. • evitação
  3. • expressão facial de apreensão
  4. • pressão para falar
  5. • reação de sobressalto exagerada
  6. • olhos arregalados
  7. • atos motores repetitivos
  8. • maneirismos/ compulsões
  9. • insônia
  10. • comportamento imprudente ou autodestrutivo
 (III) Sintomas autonômicos
  1. • taquicardia
  2. • palpitação
  3. • aperto 
  4. • desconforto ou dor no peito 
  5. • boca seca 
  6. • hiperventilação 
  7. • parestesias 
  8. • tonturas 
  9. • urgência para urinar
  10. • desconforto abdominal leve
  11. • diarreia
  12. • sudorese
  13. • tremores

Na experiência de ansiedade e medo, a vigilância é aumentada. A resposta a uma ameaça é mais facilmente evocada, o que pode ser verificado pela reação de sobressalto facilitada e pela hipersensibilidade a ruídos. 
O aumento do alerta pode causar insônia. O corpo fica preparado para ação quando apresenta inquietação, aumento da frequência cardíaca ou respiratória. 
Nessa experiência, na ânsia de identificar ameaças mais cedo, é dada atenção preferencial a pistas relacionadas a ameaças. Interpreta-se informação ambígua, inespecífica ou não clara como ameaça para não ser surpreendido, de outra forma, prefere-se ver leões onde não existem do que ficar vulnerável a um. Experimenta-se a intolerância à incerteza, o que pode levar a evitação de situações em que a ameaça não é clara. 


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