Osvladir Custódio - Psiquiatria

Como lidar com a ansiedade?

Osvladir Custódio • 9 de outubro de 2021

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Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico de ansiedade deve ser elaborado com base anamnese completa e observação do comportamento durante a entrevista. São detalhados sintomas psiquiátricos, histórico médico, medicações tomadas, estressores psicossociais recentes e o desempenho nas atividades cotidianas. Frequentemente, a avaliação clínica é complementada com informante (parente, cuidador) e, às vezes, com exames laboratoriais ou de neuroimagem. 
Diagnóstico diferencial dos transtornos ansiosos?
"Nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças." (Sêneca)

O médico, no processo diagnóstico, deve diferenciar entre os diversos transtornos de ansiedade de acordo com suas características citadas abaixo. 

Transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado pela experiência, num período de seis ou mais meses, de ansiedade ou preocupação excessiva, que se considera incontrolável, quase todos os dias, associada com, pelo menos, outros três sintomas: agitação ou sentir-se tenso ou estar no limite; ficar facilmente fatigado; dificuldade de concentração ou dar branco na mente; irritabilidade; tensão muscular; e perturbação do sono. 

Agorafobia é a evitação de lugares de onde possa ser difícil escapar ou onde o auxílio pode não estar disponível, na eventualidade de ter um ataque de pânico ou sintomas do tipo pânico 

Transtorno do pânico é caracterizado por ataques de pânico (uma onda abrupta de medo ou desconforto intenso que alcança seu pico dentro de minutos) recorrentes e inesperados, que podem se seguir por preocupação persistente (por exemplo, perder de controle, ficar louco) ou mudança mal adaptativa no comportamento (comportamento de evitação).

Transtorno de estresse pós-traumático surge, após a exposição a um ou mais eventos traumáticos, com o desenvolvimento de sintomas que podem ser agrupados em sintomas de intrusão (p. ex., flashbacks), evitação persistente do estímulo, alterações negativas na cognição e humor e alterações marcantes na excitação e na reatividade associadas ao evento traumático. 

Transtorno obsessivo-compulsivo é a presença de obsessões e compulsões. Obsessões são pensamentos repetitivos e persistentes (p. ex., de contaminação), imagens (p. ex., de cenas violentas ou aterrorizantes) ou impulsos (p. ex., apunhalar alguém).

Fobia social é o medo ou ansiedade intensas em uma ou mais situações sociais nas quais o sujeito é exposto ao escrutínio uma ou mais situações sociais. 

Fobia específica é o medo ou ansiedade intensos de um objeto ou uma situação específica, que é ativamente evitada ou confrontada com fortes emoções.

Ansiedade em demência pode manifestar-se como preocupações sobre seu dinheiro, futuro, saúde e com eventos e atividades não estressantes previamente (p. ex., sair de casa). O medo de ficar só– uma fobia – é comum e estressante para membros da família ou cuidadores, já que o paciente pode constantemente queixar-se de falta ou exigir a presença de alguém.

Síndrome de Godot é comum em demências e caracteriza-se por excessiva preocupação com acontecimentos futuros (por exemplo, com a consulta de rotina a seu médico) e faz com que o paciente pergunte repetidamente sobre um evento para familiares ou cuidadores.

Transtorno de ansiedade associada à condição médica geral ou ao uso de substâncias psicoativas é caracterizado pela experiência de ansiedade ou de ataques de pânico. Estes sintomas surgem durante ou logo após intoxicação ou abstinência de substâncias psicoativas, exposição de medicamentos ou são relacionadas a uma condição médica geral documentada com história médica, exame físico ou achados laboratoriais claramente.

Substrato anatômico

Embora cada um desses transtornos descritos acima seja heterogêneo, os mecanismos cerebrais envolvidos no transtorno do estresse pós-traumático, transtorno do pânico e fobias podem ser indiscutivelmente diferenciados daqueles que mediam transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de obsessivo compulsivo. Estudos dos três primeiros distúrbios mostraram hiperatividade na amígdala e na ínsula, em comparação com indivíduos saudáveis. Esse padrão também foi observado em indivíduos saudáveis sentindo ansiedade antecipatória durante o condicionamento do medo. No transtorno de ansiedade generalizada e transtorno obsessivo compulsivo, estruturas adicionais, como o córtex pré-frontal, parecem desempenhar um papel fundamental. Assim, diferentes tipos de transtorno de ansiedade podem ter um diferente tipo de alarme, com seu próprio valor adaptativo e sustentado por um circuito neuronal único.
“Quem aprendeu a ficar ansioso da maneira certa aprendeu o máximo.“
(Soren Kierkegaard)

Ansiedade tem cura? 

Nenhum de nós aprendeu o máximo. O tratamento da ansiedade não envolve sua eliminação, pois se trata de uma ferramenta para a sobrevivência. No entanto, não vivemos mais em um ambiente repleto de ameaças e precisamos lidar melhor com esta realidade. Portanto, aprender a ficar ansioso da maneira certa pode ser uma tarefa para a vida inteira.

Uma grande barreira na busca e na participação do tratamento é o estigma associada à doença mental. Estigma é uma desaprovação social utilizada para afastar de um grupo dominante algum indivíduo ou um grupo de pessoas com doença mental, resultando em indivíduos rejeitados, objetos de discriminação e excluídos da participação em diversas áreas da sociedade.

“São três as obrigações que nos impedem: tenho de me sair bem. Você deve me tratar bem. E o mundo deve ser fácil". 
(Albert Ellis)

O indivíduo pode ter consciência do estigma, aceitá-lo e aplicar a si próprio os estereótipos negativos sobre sua doença, o que pode agravar os sintomas psiquiátricos, levando a isolamento, autocrítica exagerada, sentimentos de baixa autoestima e culpa. 

A tarefa de tratar a ansiedade patológica envolve psicoeducação, aprender reconhecer os sintomas de ansiedade, modular as emoções, corrigir vieses atencionais e a interpretação dos estímulos, reduzir a intolerância à incerteza, promover ativação comportamental, enfrentar situações que causam medo e ansiedade, reavaliar os pensamentos e crenças negativas e adotar um estilo de vida mais saudável.

As ferramentas que temos para ajudar as pessoas são as terapias farmacológicas, as psicossociais e as alternativas.

Tratamento farmacológico
Os antidepressivos – os inibidores seletivos da receptação da serotonina- são considerados agentes de primeira escolha devido ao melhor perfil de eventos adversos.
Embora os benzodiazepínicos sejam os mais prescritos para o tratamento dos transtornos de ansiedade, o uso destes fármacos está associado com efeitos colaterais, especialmente, no idoso, como o risco aumentado de quedas, lentificação psicomotora, tremor, prejuízo cognitivo ou potencial de tolerância.
Outros medicamentos utilizados no tratamento de ansiedade são a buspirona, antipsicóticos atípicos e ligantes alfa-2-gama (pregabalina).     

Terapias psicossociais
A terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), terapia de exposição, terapia interpessoal e outras estratégias psicoterápicas podem ser utilizadas para o tratamento dos transtornos de ansiedade. A TCC é a técnica mais estudada e que apresenta melhores resultados. 
 A TCC para insônia pode ser utilizada nos pacientes ansiosos com insônia crônica.
Em alguns pacientes, pode ser utilizada a entrevista motivacional para aqueles que não têm motivação para mudança. Outros podem estar deprmidos ou com a vida tão empobrecida que ativação comportamental pode ser útil. 
 Nos pacientes com ansiedade extremas e prolongadas, pode ser necessário o treino de habilidades sociais.

Alternativas de tratamento
Programas de exercícios são uma opção viável de tratamento para o tratamento da ansiedade. Os regimes de exercício de alta intensidade foram encontrados para ser mais eficazes do que os regimes de baixa intensidade.
Programas breves de treinamento em atenção plena são abordagens cada vez mais populares para reduzir a afetividade negativa (p. ex., ansiedade, depressão, ruminação e estresse).
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