Terapia cognitivo-comportamental para insônia previne depressão?
Hoje em dia, muitos resultados de pesquisa ganham grande exposição na mídia mesmo antes do debate na comunidade científica, da replicação do estudo e da passagem do tempo em que as verdades se depuram. No meu consultório, cotidianamente, esclareço pacientes e familiares de informações colhidas na internet. Na maioria das vezes, estudos indicam apenas um caminho para continuarmos ou não. Não são definitivos.
Vou comentar um artigo que foi recentemente publicado em uma revista de alto impacto. Gostaria que o leitor não visse o resultado como a verdade definitiva, mas mais uma indicação de um novo caminho possível, que muito há para se caminhar ainda.
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Em moradores comunitários com 60 ou mais anos, depressão tem alta prevalência, apresenta taxa alta de suicídio para homens e é um importante fator de risco para declínio cognitivo, incapacidade funcional, comorbidade médica e mortalidade por todas as causas. Nesse contexto, pessoas com depressão, muitas vezes, não recebem diagnóstico e tratamento, e mesmo com tratamento, apenas um terço dos casos atinge a remissão.
Prevenção e tratamento mais efetivo para depressão são urgentemente necessários. Má alimentação, sedentarismo, tabagismo e insônia são reconhecidos como fatores de risco para doenças altamente prevalentes, como as cardiovasculares e os transtornos mentais. Em pessoas com mais de 60 anos, insônia é muito comum (50%) e um fator de risco importante para depressão maior.
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Recentemente, Irwin e colaboradores assentaram um paralelepípedo nessa estrada da prevenção de depressão. Mostraram que o tratamento da insônia com terapia cognitivo-comportamental para insônia (CBT-I) tem um benefício geral na prevenção de depressão maior em pessoas com 60 ou mais anos. Nesse estudo, o número necessário para tratar (NNT) de pessoas idosas com insônia para prevenir o aparecimento de um episódio depressivo foi 7, que é bem menor do que os relatados (NNT=20 ou 22) pelos estudos meta-analíticos para prevenção de depressão com intervenções psicológicas gerais.
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Mais detalhadamente, neste ensaio clínico, 291 pessoas com 60 anos ou mais e insônia foram randomizados (*) para o CBT-I ou SET (outro tratamento ativo). No final de 24 meses, houve uma maior descontinuação do estudo no grupo CBT-I, o que é uma limitação da validade desse estudo. O protocolo inicial foi estendido por mais 12 meses. O primeiro episódio ou a recorrência de depressão maior ocorreu em 19 participantes (12,2%) no grupo CBT-I e em 35 participantes (25,9%) no grupo SET. A remissão completa da insônia antes do evento depressivo ou durante o acompanhamento foi mais provável em participantes de CBT-I.
(*) Randomizados: significa que os pacientes são alocados para um dos dois grupos de forma aleatória, como, por exemplo, lançando-se uma moeda. Ou seja, um sujeito tem a mesma probabilidade de ser sorteado para um dos dois grupos.
Irwin MR, Carrillo C, Sadeghi N, Bjurstrom MF, Breen EC, Olmstead R. Prevention of Incident and Recurrent Major Depression in Older Adults With Insomnia: A Randomized Clinical Trial. JAMA Psychiatry. Published online November 24, 2021. doi:10.1001/jamapsychiatry.2021.3422
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Cuijpers P, Pineda BS, Quero S, et al. Psychological interventions to prevent the onset of depressive disorders: ameta-analysis of randomized controlled trials. Clin Psychol Rev. 2021; 83:101955. doi:10.1016/j.cpr.2020.101955
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