Osvladir Custódio - Psiquiatria

Não consegue dormir?

Osvladir Custódio • 1 de novembro de 2021

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Para que serve o sono?


Essa pergunta não tem resposta amplamente aceita. O sono pode ter servido a um objetivo geral de sobrevivência.  À noite, a capacidade dos nossos  ancestrais de enxergar bem, encontrar comida e se defender de predadores era comprometida, eles dormiam, forçando-os a ficarem inativos à noite.  

Estudos sobre sono profundo sugerem que é um estado de descanso no qual o cérebro e o corpo se desativam. O sono profundo também parece servir para uma importante função restauradora biológica.

Outra questão interessante: Por que sonhamos? Ninguém sabe ao certo. As teorias mais difundidas propõem que nos sonhos consolidamos memórias, processamos emoções, expressamos desejos profundos, praticamos para lidar com perigos potenciais ou resolvemos problemas.

O que é insônia?


Insônia caracteriza-se essencialmente pela insatisfação de uma pessoa com a quantidade ou qualidade do sono, associada à dificuldade em adormecer, manter o sono ou despertar precocemente. Pode coexistir com outras perturbações do sono, transtornos mentais ou doenças físicas. E indivíduos com insônia relatam desempenho físico e laboral prejudicado, pior funcionalidade social e qualidade de vida ruim.

Insônia crônica é definida pela existência de episódios de dificuldade com o sono ocorrem em 3 ou mais noites por semana, por pelo menos, 3 meses. É diagnosticada apenas quando um indivíduo tem oportunidade adequada para dormir, distinguindo a insônia da privação do sono.  Pode ser explicada pelo uso de substâncias psicoativas, medicamentos ou doenças ou condições médicas. 


“Sim ou não? Esta pergunta surgiu-me de chofre no sono profundo e acordou-me. A inércia findou num instante, o corpo morto levantou-se rápido, como se fosse impelido por um maquinismo. Sim ou não? Para bem dizer não era pergunta, voz interior ou fantasmagoria de sonho: era uma espécie de mão poderosa que me agarrava os cabelos e me levantava do colchão, brutalmente, me sentava na cama, arrepiado e aturdido.”

(Graciliano Ramos, Insônia)



Insônia é comum?


É o transtorno do sono mais comum e pouco reconhecido. Em sociedades industrializadas, afeta uma em cada 10 pessoas. A falta ou o tratamento inadequado da insônia têm várias consequências importantes, incluindo o desenvolvimento subsequente de doenças psiquiátricas e o aumento do uso de substâncias.


Por que a insônia se torna crônica?


O modelo comportamental 3P ou modelo de Spielman ajuda a entender a insônia e é amplamente aceito. Nesse modelo, temos três componentes - os fatores predisponentes, precipitantes e perpetuadores- que interagem para desencadear a insônia.

De acordo com o modelo, o fator predisponente pode causar noites ocasionais de sono ruim, mas, em geral, a pessoa dorme bem até que ocorra um evento precipitante que desencadeie uma insônia de curta duração. Se surgirem maus hábitos de sono ou outros fatores perpetuadores, a insônia se torna crônica e persiste mesmo com a remoção do fator precipitante.

Os fatores predisponentes podem ser biológicos, psicológicos e sociais. Entre os biológicos, podemos citar a carga genética, a taxa metabólica elevada ou alterações neuroquímicas associadas ao sono e à vigília. Os fatores psicológicos incluem preocupação ou tendência a ser excessivamente ruminante. Um parceiro de cama mantendo um horário de sono incompatível ou pressões sociais para dormir de acordo com um horário de sono não preferido (p, ex., criação de filhos) são exemplos de fatores predisponentes sociais.

Eventos estressantes de vida (p. ex., morte de um ente querido), doenças médicas ou psiquiátricas são fatores  precipitantes que desencadeiam insônia.

Fatores perpetuadores referem-se às ações adotadas que visam compensar ou lidar com a insônia e acabam tornando-a crônica. A pesquisa e o tratamento concentraram-se em três tipos de fatores perpetuadores: a prática de atividades não adormecidas no quarto, a tendência de permanecer na cama enquanto acordado e a tendência de gastar quantidades excessivas de tempo na cama. Pensamentos e crenças negativos e distorcidos sobre a insônia também contribuem na perpetuação da insônia.


Como se faz o diagnóstico de insônia?


O diagnóstico de insônia se baseia na história do paciente e do parceiro de cama sobre o sono e suas consequências diurnas (p. ex., irritabilidade, fadiga, sonolência, desempenho prejudicado ou produtividade). Questionários de autorrelato e diários do sono são frequentemente úteis para avaliar a gravidade da insônia, identificar comportamentos que contribuem para a insônia persistente e monitorar os efeitos do tratamento.

 Indivíduos com insônia geralmente apresentam vários sintomas do sono ao longo do tempo. Mesmo assim, os sintomas específicos do sono podem ajudar no diagnóstico diferencial.

Dificuldade em adormecer pode indicar transtorno de fase atrasada de sono, síndrome das pernas inquietas ou ansiedade. Dificuldade manter o sono pode resultar de apneia do sono, noctúria ou dor. O despertar matinal está associado a transtorno de fase avançada de sono e depressão.


 “Eu prefiro insônia à anestesia.” (Antonio Tabucchi)


Insônia tem cura?


Para que fique mais claro, podemos dizer que pessoa com insônia crônica tem um sistema de vigília mais forte e um sistema de sono mais fraco em relação às que dormem normalmente. Para maioria de nós, “esses sistemas” são inconscientes.

Por isso, o tratamento da insônia é complexo envolve compreensão dessas forças, reconhecê-las e, muitas vezes, modificá-las. O médico, para conduzir um tratamento eficaz, precisa da colaboração do insone e tem, como ferramentas, medicamentos, psicoterapia e mudanças de estilo de vida.

Medicamentos para dormir podem ser utilizados por curto prazo, mas não atuam nas causas da insônia como destacado no modelo 3P. Alguns autores supõem que tratar apenas os sintomas da insônia produzirá melhora apenas temporária, perpetuando o ciclo de insônia e uso de medicamentos para dormir. O sono pode melhorar ao tomar um comprimido para dormir, mas a insônia geralmente retorna quando o comprimido é interrompido. Esse ciclo pode se tornar uma armadilha que pode levar à dependência de medicamentos.

A terapia cognitivo-comportamental para insônia, então, surge como o tratamento recomendado para insônia. Exerce seus efeitos terapêuticos, em parte, ensinando pacientes a fortalecer seu sistema de sono ao preparar o cenário para a ocorrência do sono.

Treinamento de relaxamento ensina como relaxar a mente e o corpo. Isso ajuda a reduzir qualquer ansiedade ou tensão que o mantém acordado na cama. Este método pode ser usado durante o dia e na hora de dormir. Envolve treinar você para controlar melhor as seguintes funções: relaxamento muscular, respiração e foco mental.

Medidas de higiene do sono são uma lista de coisas que devem feitas ou não para alcançar o sono como, p. ex., atividade física, evitar cafeína, álcool e tabaco antes de dormir. Treinamento de relaxamento e medidas de higiene do sono são necessários, mas, em geral, não suficientes para tratar insônia crônica.


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