Osvladir Custódio - Psiquiatria

Podemos prevenir demência vascular?

Osvladir Custódio • nov. 02, 2021

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O que é demência vascular?


Demência vascular é um tipo de demência causado por condições que bloqueiam ou reduzem o fluxo sanguíneo para várias regiões do cérebro, impedindo a chegada de oxigênio, glicose e outros nutrientes.

Há doenças ou condições médicas (p. ex., aterosclerose, vasculites) que danificam os vasos sanguíneos do corpo e podem levar ao prejuízo do fluxo sanguíneo e danificar ou, eventualmente, matar células em qualquer lugar do corpo. Sem suprimento de oxigênio e glicose, as células cerebrais, bastante vulneráveis, acabam morrendo.

Com o bloqueio dos grandes vasos que irrigam no cérebro, podem ocorrer repentinamente derrame cerebral ou acidente vascular encefálico e demência vascular. Como consequência de múltiplos e pequenos derrames ou outra condição médica que afete pequenos vasos sanguíneos, o declínio cognitivo pode também ocorrer e evoluir gradativamente.  

Lesões vasculares não são necessariamente progressivas.  Para ter sucesso, a prevenção deveria ser iniciada com tratamento dos fatores de risco (p. ex., diabete melito, hipertensão arterial) para lesão vascular o mais precocemente quando ainda não há manifestações clínicas ou quaisquer prejuízos cognitivos. Isso poderá prevenir acidente vascular cerebral e/ou prejuízo cognitivo.


Demência vascular é comum?


É a segunda causa mais comum de demência, entre 15-20% dos casos. Pesquisadores recentemente afirmaram que a proporção dessa demência entre os brasileiros é maior.

Demência vascular é pouco reconhecida pelos médicos, como acontece com a doença de Alzheimer. Isso pode levar a um diagnóstico mais tardio no curso da doença.

Sintomatologia


O impacto das condições que bloqueiam ou reduzem o fluxo sanguíneo nos domínios cognitivos varia amplamente, dependendo da parte do cérebro afetada e da gravidade da lesão dos vasos sanguíneos.  

Após derrame cerebral ou acidente vascular encefálico, os sintomas são mais evidentes quando ocorre e incluem confusão mental, desorientação, dormência ou paralisia em um lado da face ou do corpo, dificuldade para falar ou entender o discurso de alguém, dor de cabeça repentina, dificuldade para andar e problemas de equilíbrio.

Múltiplos pequenos acidentes vasculares do encéfalo ou outras condições que afetam pequenos vasos sanguíneos podem causar déficits nos domínios cognitivos mais graduais à medida que os danos se acumulam. Sinais precoces comuns de doença generalizada dos pequenos vasos incluem planejamento e julgamento prejudicados, riso e choro imotivados, dificuldade de prestar atenção, apatia, depressão e dificuldade em encontrar as palavras certas. Depressão é altamente associada a eventos vasculares.

Perda de memória pode ser um sintoma importante dependendo da área específica do cérebro em que o fluxo sanguíneo cérebro esteja reduzido. No caso de comprometer áreas chaves ligadas à estocagem e à recuperação de informação, essa redução do fluxo pode causar perda de memória similar à doença de Alzheimer.


Diagnóstico


A história detalhada dos déficits cognitivos e dos problemas do comportamento, a rigorosa avaliação da funcionalidade, o exame físico, os testes neuropsicológicos, os exames laboratoriais e de neuroimagem são necessários para o adequado diagnóstico.  

O exame de imagem cerebral, geralmente, ressonância nuclear magnética deve demonstrar um derrame recente ou outras alterações vasculares, cuja gravidade e padrão de lesão pelo comprometimento vascular são consistentes com quadro clínico. É fundamental também para descartar fatores não vasculares contribuindo para o declínio cognitivo.

A idade, sexo, baixa escolaridade, doenças cardiovasculares (p. ex., infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca e arritmia), grandes cirurgias, encefalopatia vascular cerebral e apneia do sono são fatores de risco para demência vascular.

Fatores de risco para doenças cardiovasculares também podem afetar os vasos cerebrais: tabagismo, hipertensão arterial, glicemia alta, colesterol alto, sedentarismo, obesidade e álcool. Por isso, podemos diminuir o risco de demência se o controlarmos.


Tratamento


A lesão vascular cerebral pode jogar um papel importante na apresentação das demências de qualquer etiologia. Após derrame, fisioterapia pode ser necessária.

Todos os pacientes com sintomas cognitivos deveriam receber tratamentos para prevenir evento vascular.

A adoção da dieta do Mediterrâneo reduz o risco de declínio cognitivo. Atividade física de intensidade moderada, seja aeróbica ou resistida, melhora o desfecho cognitivo entre idosos.

Perda auditiva deve ser investigada por otorrinolaringologista e audiometria e devidamente tratada. O sono deve ser adequadamente investigado e tratado.

Pacientes com apneia de sono devem ser tratados com CPAP para melhoria da cognição e redução de risco de demência. O sono deve ser regular e ter boa duração para melhorar a cognição e diminuir o risco de demência.

A síndrome de fragilidade do idoso deve ser manejada para reduzir o fardo geral dos demenciados.

Medicações com propriedade anticolinérgicas deveriam ser descontinuadas na medida do possível.

Demência é uma doença evitável. O tratamento da hipertensão arterial pode reduzir o risco de demência, médicos deveriam avaliar, diagnosticar e tratar hipertensão arterial. É observada uma queda na incidência de demência nos países mais desenvolvidos, possivelmente, relacionada com o tratamento da hipertensão arterial e da dislipidemia. Por outro lado, um aumento da incidência em países em desenvolvimento.

Não há tratamento específico para demência vascular, mas os anticolinesterásicos  e memantina utilizados para doença de Alzheimer podem produzir efeitos benéficos em alguns pacientes. Reabilitação neurocognitiva pode ser tentada.


 


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